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2. – A ORAÇÃO

“É uma grande aberração pensar que o Opus Dei termina. Ele não termina. Mesmo quando nossos lábios estão imóveis, uma palavra interior ressoa, e é essa que Deus ama. O Ofício deve nos pôr em oração.”

São Bento recomenda a oração no capítulo quatro: “Entregar-se freqüentemente à oração”. – “O fundo da vida monástica é a oração. Nós devemos considerar a oração segundo a Regra, não como um exercício que começa e acaba em momentos determinados, mas como algo que não se interrompe nunca. O que Deus quer de nós é a freqüência que faz da oração a ocupação habitual e, de certa maneira, a respiração de nossa alma.”

O Pe. Muard fala da mesma forma: “Segundo o preceito de Nosso Senhor, a oração do monge beneditino deve ser contínua. Ele deve rezar em todo tempo e em todo lugar, de dia, de noite, durante seu trabalho; mesmo no meio do mundo, quando ele for obrigado a estar aí, seu espírito e seu coração devem estar aplicados em Deus por uma contínua e amorosa oração, pois é nisso sobretudo que consiste o espírito de oração tão recomendado pelos santos.” – “Não há oração verdadeira nem frutuosa se ela não for assídua. As riquezas e a força da oração estão prometidas à assiduidade perseverante.”

Como se faz oração? – “Quando eu faço oração mental, dirá alguém, fico com a cabeça cansada! – Você não fez oração, você não sabe fazê-la! Faz-se oração com a cabeça? Especula-se na oração como nos cálculos matemáticos?”

“Também não se trata de ir sonhar, dormir diante do Santíssimo Sacramento. É preciso, ao contrário, que a alma esteja bem desperta, que ela tenha um assunto determinado, que ela escute Deus.”

“Fazer oração mental é procurar Deus no santuário íntimo de nossa alma. Pouco importa a maneira pela qual procedemos. Pouco importa a forma. Na vida espiritual, a oração é o que há de mais subjetivo É como o temperamento, o caráter. Se se pudesse tornar visíveis as orações, compará-las, o fundo seria idêntico, mas a fisionomia muito variada. A oração vem do alto, mas ela se individualiza, se adapta e toma necessariamente características subjetivas em cada um de nós.”

“O segredo da oração é bem simples: “Gustate et videte”, “Provai e vede”. A oração só é complicada quando os homens querem intrometer-se nela. Eles fazem tratados sobre cada um dos pontos que a tocam. Hoje todo o mundo quer escrever. Há revistas ascéticas, místicas. Na antigüidade e até o século XVI, só havia um método de oração: o método de Deus. No século XVI aparece o método do homem. Este último dominou tudo e, pode-se acrescentar, desfigurou o ascetismo beneditino. Cabe a nós voltar a ele de velas soltas. Madame Cécile Bruyère não fez senão demonstrar isso no seu livro ‘Oraison’.”

Mas é necessário um método? – “A Regra monástica é toda ela, no seu conjunto e nos seus detalhes, um método de oração, o primeiro e o melhor de todos os métodos de oração. Examinada em seus detalhes com relação à oração e à vida interior, ela aparece como uma via luminosa, arrebatadora e fácil, que leva unicamente a esse encontro da alma com Deus.” – Como assim? – “Aqueles que cumprem seus preceitos e tomam seu espírito, adquirem a PUREZA DO CORAÇÃO, A COMPUNÇÃO DAS LÁGRIMAS E A HUMILDADE indicadas pelo Santo Patriarca como fontes íntimas e fecundas da oração.”

São Bento descreve na sua Regra o monge em oração: “SE TAMBÉM OUTRO, PORVENTURA, QUISER REZAR EM SILÊNCIO, ENTRE SIMPLESMENTE E ORE, NÃO COM VOZ CLAMOROSA, MAS COM LÁGRIMAS E APLICAÇÃO DO CORAÇÃO”. A que ele aplica seu coração? – “AUSCULTA, O FILI.” “Escute Jesus. Onde? Como? Quando? No seu próprio coração, num coração onde reina o silêncio interior, na oração. Como é raro o silêncio, a atenção verdadeira e contínua! Nós costumamos nos dispersar com aquilo que está em torno de nós e, dentro de nós, guardamos simpatias por todo o tipo de ruído. Muito depressa fazemos em nós eco das coisas exteriores. É preciso voltar suavemente desse exterior, de todo esse barulho, de todo esse ruído ao silêncio interior.” – Como afastar nossas distrações? – “Sirvamo-nos de nossas distrações para fazer oração. Se não for um pensamento ruim, nós sempre podemos encontrar aí um primeiro grau de colóquio com Deus. De ordinário, aliás, a alma não está impedida pelas distrações, mas está, antes, sob o peso do torpor, da preguiça espiritual. É preciso despertá-la.”

“AUSCULTA, O FILI”. Jesus só pode fazer suas confidências à alma atenta, à alma mergulhada no recolhimento da oração. O que é preciso fazer, o que a Regra pode fazer é, pois, purificar nossos corações. Assim que o coração estiver suficientemente purificado para ver a Deus, a inteligência fica iluminada. Então a oração é bem simples. Tão simples assim? Perfeitamente: “Provai… e esquecei todo o resto.”

Qual é o tema da oração? – “A oração tal como a concebe São Bento tem por tema o próprio texto do Ofício Divino. Ela brota das entranhas do Ofício Divino. Ela deve ser simplesmente a degustação e a digestão da liturgia.”

“O Ofício Divino é, portanto, a fonte inesgotável, o alimento sempre renovado da oração. A Regra é o modelo dela. O Missal e o Breviário são os verdadeiros livros de meditação e de oração. Que diferença! Tomar um tema de oração na própria palavra de Deus ou dos santos aprovados pela Igreja, ou tomá-lo numa palavra piedosa, mas que, por seu lado humano, é só um comentário enfraquecido, um eco bem longínquo do pensamento divino. Nossa oração deve, pois, primeiramente tirar toda sua substância dos esplendores espirituais do Missal e do Breviário e, em segundo lugar, fazer saborear à alma consagrada as delícias escondidas que aí estão.”

“Durante o Ofício, deixe-se envolver por ele. Em seguida, continue a saborear o que foi recolhido durante o Ofício e no silêncio, interrogue as idéias assim semeadas. A oração, que é a nota íntima do Ofício Divino, torna-se em seguida o seu eco prolongado, o perfume precioso, o fruto pessoal apropriado às disposições e às necessidades de cada um segundo a conduta do Espírito Santo.”

“Como o Ofício Divino recomeça sete vezes ao dia e uma à noite, o rio da oração corre sem cessar entre os filhos de São Bento, e a alma que sempre permanece à sua margem abençoada pode aí se dessedentar abundantemente de maneira a sentir seu frescor salutar da manhã à tarde e da tarde à manhã.”

“Emanando de todos os detalhes da vida monástica, a oração dos monges é uma oração que impregna progressivamente toda a alma do monge fiel. Ela não é uma oração de teoria metódica e raciocinada, mas de prática, colhida sem cessar nas inúmeras e divinamente perfumadas flores da Liturgia. Ela circula nas nossas fileiras, guarda os corações, alegra os semblantes, afasta toda sombra, ornamenta o claustro, é o contato perpétuo das almas com Jesus e entre elas.”

“No fundo, a oração dos monges consiste em se manter, como faziam os santos, constantemente na presença de Deus.”

Como saber se a oração tem sido bem feita? – “A única marca da boa oração é a obediência com humildade, o culto do dever e o sacrifício de si mesmo.”

Quais são os efeitos da oração? – “Se a alma regulasse todo seu interior pela influência da oração, ela se divinizaria, ela se simplificaria e tornar-se-ia um verdadeiro soldado da Regra e de Cristo. Conheço pessoas que ganhariam em argumentar e raciocinar um pouco menos, economizando tempo e trabalho e que veriam mais claro e mais certo.”

“Uma alma de oração adivinha a verdade. Ela tem o instinto da verdade. Por que se espantar? Ela está em contato com a própria verdade. A oração dá o senso das verdades práticas. A mais contemplativa das almas é ao mesmo tempo a mais prática e eficaz na vida ativa, a mais fecunda.”

“Uma alma de oração é uma alma de Deus, ela pertence a Deus e só existe para Deus.”

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