Setembro chega trazendo um duplo convite: é o Mês da Bíblia, tempo em que a Igreja nos incentiva a voltar o coração para a Sagrada Escritura, e é também o mês que marca o início da primavera, estação da renovação, da vida que desperta, do colorido que volta a se espalhar pela criação. Para nós, que vivemos ou buscamos viver a espiritualidade beneditina, estes dois temas se encontram de modo belo e profundo.
São Bento, no prólogo de sua Regra, nos convida: “Escuta, ó filho, os preceitos do Mestre e inclina o ouvido do teu coração”. A escuta é o primeiro passo do caminho espiritual. Escutar exige silêncio, exige atenção, exige desejo de ser transformado. É assim que o monge se aproxima da Palavra de Deus — não como um texto qualquer, mas como uma presença viva que fala, ilumina e orienta a vida.
A Palavra como semente
A Palavra de Deus é comparada na Escritura a uma semente. Jesus mesmo nos conta na parábola do semeador que a semente cai em diferentes tipos de solo, e só frutifica naquele que é bem preparado. O mês de setembro é um convite para preparar o solo de nossa alma, revolver a terra endurecida pela pressa e pela distração, e deixá-la pronta para acolher a semente da Palavra.
Primavera interior
A primavera nos recorda que a vida é cíclica, que mesmo o inverno da alma pode dar lugar a um novo florescer. Assim como a natureza desperta, também nós podemos despertar. Que virtude precisa florescer em você neste tempo? Que parte do seu coração está precisando de um novo sopro de vida? Talvez seja a esperança que o cansaço quase apagou, a alegria que ficou escondida, ou a caridade que perdeu o fervor. A Palavra de Deus é como um orvalho que desce suave, nutrindo e fortalecendo cada semente de virtude.
Lectio Divina: o caminho da escuta
Na tradição beneditina, a Palavra é rezada, meditada e saboreada. É a chamada lectio divina, que São Bento recomenda como alimento cotidiano do monge. A lectio não é estudo intelectual, mas encontro de amor:
1. Ler: Escolha um trecho da Escritura, leia lentamente, como quem ouve uma voz amiga.
2. Meditar: Reflita sobre o que o texto está dizendo para você hoje, em sua realidade.
3. Orar: Responda a Deus com suas palavras, agradeça, peça perdão, suplique.
4. Contemplar: Permaneça em silêncio, deixe que a Palavra desça ao coração e ali floresça.
Prática para este mês:
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Escolha um evangelho ou um salmo e faça dele o seu companheiro de setembro.
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Separe um tempo fixo do dia para ler e rezar a Palavra.
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Escreva em um diário as inspirações que vierem.
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Observe a natureza: cada botão que se abre, cada pássaro que canta, cada aroma de flor — e transforme essas experiências em oração.
Espiritualidade que se espalha
O florescer da primavera não é silencioso: ele enche o mundo de cores e perfumes. Assim também a Palavra, quando acolhida, não fica escondida. Ela transforma nosso olhar, nosso falar e nosso agir. As pessoas ao nosso redor percebem que algo mudou. A primavera da alma gera frutos: paciência, mansidão, humildade, perseverança, paz.
Oração:
“Senhor, que este mês seja para mim um tempo de renovação. Que a Tua Palavra encontre em mim um solo fértil, e faça nascer flores de virtude e frutos de santidade. Que minha vida, tocada por Ti, se torne jardim onde outros possam encontrar sombra, beleza e descanso para o coração.”
Que setembro seja para todos nós um tempo de Palavra e de florescimento, um tempo de esperança que nos conduza mais profundamente ao Coração de Cristo, de onde brota a verdadeira primavera da vida espiritual.