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CAPÍTULO 11 - O OFÍCIO DIVINO

Há na Igreja da terra uma oração solene e sagrada, que faz eco ao tríplice Sanctus dos Serafins do céu, uma oração que São Bento chama uma obra divina, a obra de Deus: Opus Dei.

É a prece das sete horas místicas do dia, desenrolando-se após uma longa oração noturna: é a obra capital dos religiosos beneditinos, a qual não cede a nenhuma outra, aquela à qual devem ceder todas as outras. Nihil operi Dei praeponatur.

A cada uma destas horas o filho de São Bento é, pela sua Regra, chamado ao coro para oferecer aí os seus louvores ao seu Criador. His temporibus referamus laudes creatori nostro.

Ao primeiro sinal do ofício, é preciso imediatamente deixar tudo e dirigir-se ao coro, com uma religiosa solicitude, uma gravidade modesta e uma alegria incomparável de ser chamado a unir-se ao coro dos anjos, para começar aqui em baixo a oração que se aperfeiçoará, sem jamais terminar, nos céus.

Não contente em chamar os seus irmãos ao ofício, São Bento prescreve punições para os que chegarem atrasados ao mesmo.

Começado o ofício, é preciso manter-se nele com uma atenção mais intensa à presença de Deus. Sabemos o que São Bento ensina sobre o exercício da presença de Deus, e como ele recomenda a seu discípulo estar sempre atento; nós não nos espantaríamos de que ele dê uma advertência toda especial para o tempo do ofício divino: Ubique credimus divinam esse praesentiam, et oculos Domini in omni loco speculari bonos et malos; maxime tamen hoc credamus, cum ad opus divinum assistimus.

Considerando que os religiosos no coro fazem na terra o ofício dos anjos no céu, São Bento quer que eles se tornem atentos à presença dos anjos. Consideremus qualiter oporteat nos in conspectu divinitatis et angelorum esse.

O salmista havia dito: “Na presença dos anjos, Senhor, cantar-Vos-ei salmos”.

Ainda existe um conselho muito interessante e importante de São Bento relativamente ao ofício divino: “Estejamos na salmodia de tal modo que a nossa mente concorde com a nossa voz. Sic stemus ad psallendum, ut mens nostra concordet voci nostrae.

Bem antes de São Bento, dissera São Paulo: “Rezarei com o coração; cantarei também com a inteligência”.

Assim a voz, o coração, a inteligência, tudo o que está em nós, tudo o que nós somos, deve contribuir para o louvor de Deus. A voz canta, o coração ama, o espírito saboreia, anima, vivifica a salmodia e a torna digna de Deus.

É bom cantar, é bom amar: mas cantar e amar com inteligência é a perfeição; e esta é exigida quando se trata do ofício divino. O religioso na terra que tem de unir-se ao ofício do anjo no céu, deve esforçar-se em se elevar até o anjo com as duas asas da inteligência e do amor.

Portanto, é preciso saber.

Quando os irmãos têm tempo livre após o ofício da noite, devem também empregá-lo no estudo dos salmos e das lições. São Bento assim o quer.

É preciso saber. Toda a tradição beneditina consiste nisso. Essa também é a razão de tantos trabalhos, comentários, explicações, glosas sobre os salmos e a Escritura, que ocuparam os filhos de São Bento em todos os séculos. Eles queriam compreender, saber, a fim de cantar com inteligência e de glorificar mais Aquele que é ao mesmo tempo luz e amor, verdade e caridade.

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