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Aos místicos agradam os lugares altos. Sobre os montes, pelo mundo inteiro, situam-se templos, basílicas, santuários, igrejas, cruzes, monumentos sacros apontando para o céu, reconhecendo nele a morada de Deus. Para quem tem a mente elevada e o coração na eternidade, os pés não se contentam em andar só nos lugares planos, sem desafios a vencer, sem obstáculos a superar, sem olhos para contemplar a vastidão das paisagens.

A Bíblia Sagrada se refere muitas vezes aos morros, montes e montanhas como lugares sagrados. O Monte Moriá, na cidade de Jerusalém, foi palco de muitos episódios históricos para o povo hebreu. Foi ali que Deus pôs Abraão à prova mandando sacrificar Isaac, seu único filho, mas que foi salvo pelo Anjo do Senhor que o preservou da morte. Sobre este monte, Salomão vai construir seu magnífico tempo, quase mil anos antes de Cristo nascer (cf. I Reis 6, 1-38). Sobre o referido monte, importante para judeus, cristãos e mulçumanos, está hoje a Mesquita de Omar, com sua esplêndida cúpula dourada.

Moisés, ao se encontrar com Deus no alto do Monte Horeb, chamado também Monte Sinai, havia escutado mística voz lhe dizendo: “Tira as sandálias dos pés, pois o lugar em que estás pisando é santo” (Ex 3,5). O Profeta Elias viveu como eremita sobre o Monte Carmelo, o jardim de Deus (cf. I Reis, 18).

Ao abrir o Novo Testamento, encontramos, no evangelho de São Lucas, o anúncio do Arcanjo Gabriel a Maria, a Mãe do Salvador, o Messias esperado. Maria parte em peregrinação e sobe o Monte Ein-Karem, nas proximidades de Jerusalém, para encontrar sua santa prima, Isabel, mãe de São João Batista, a quem saúda com a oração do Magnificat (cf. Lc 1, 26-56).

Muitas vezes Jesus subiu colinas e lá passou noites em oração. Seu primeiro sermão, segundo São Mateus, se deu sobre uma montanha (cf. Mt 5, 1 ss). Foi também sobre uma alta montanha, supostamente o Monte Tabor, que se transfigurou magnificamente diante de Pedro, Tiago e João e foi lá que conversou, livremente, com o Pai na presença dos antepassados Moisés e Elias (cf. Mt 17, 1-9). Na elevação de Betânia, Jesus se encontrava com seus fiéis amigos, Lázaro, Marta e Maria, que lhe perfumou os pés marcados pelas estradas que levam para as alturas (cf. Jo 12, 3).

Num morro deserto, Ele venceu as propostas enganadoras do demônio. No Monte das Oliveiras Ele se entregava à contemplação e foi aí que iniciou sua caminhada para o Monte Calvário, onde deitou-se sobre a cruz e cumpriu o que havia dito: “quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32). No alto de seu sublime suplício, fez da cruz seu altar para salvar os que n’Ele creem.

No correr da história, o Divino Salvador vem sendo louvado, amado e venerado como Senhor Bom Jesus, que deu seu último suspiro nos braços da santa cruz. Entregou-se inteiro, corpo, sangue e alma, para que tivéssemos vida plena. Foi aí, no alto desse mesmo monte, que transformou a escuridão da morte na esplendorosa luz da ressurreição, ao sair vivo e vitorioso do sepulcro, local este que os gregos chamam de Anástasis.

Na Idade Média, muitos santos e santas procuraram lugares elevados para seus recolhimentos espirituais, suas orações, meditações, contemplações. Entre eles, se encontra, no século VI, São Bento, nascido no ano de 480. Chamado Pai dos Monges do Ocidente, viveu suas experiências místicas de amor a Deus e total adesão a Cristo sobre os montes italianos de Subiaco, na região da Úmbria, e depois no Monte Cassino, a sudeste de Roma.

Também sua irmã gêmea, Santa Escolástica, o seguiu na espiritualidade e fundou comunidades monásticas femininas nas regiões por onde seu irmão andou. Consta de sua história que, certo dia, no alto do Monte Cassino, quando São Bento voltava de uma visita à sua casa, ao entrar em seu mosteiro, uma pomba branca o assustou, passando em voo ascendente diante de seu rosto. Ele então disse a um dos monges que o acompanhavam: “volte à casa de minha irmã, pois ela faleceu”, e isso, de fato, se verificou. É por isso que em sua imagem sempre se anexa uma pomba branca.

São Bento, por sua vez, entregou sua alma a Deus algumas semanas depois, também na abadia do Monte Cassino, imediatamente após receber, de pé, a Santa Comunhão Eucarística, amparado por dois de seus monges. Era o dia 21 de março do ano 547. Sua imagem o apresenta com o báculo e a Mitra, pois era abade; com um livro, pois foi ele a redigir a primeira regra monástica no Ocidente. Aos pés vê-se um pássaro com um pão em seu bico, para recordar que São Bento foi protegido por Deus de um terrível assassinato, por meio de um corvo que tomou de suas mãos o pão envenenado.

As experiências genuinamente cristãs de São Bento e Santa Escolástica foram tão fortes que geraram muitas congregações de espiritualidade beneditina espalhadas pelos mais variados lugares do mundo e da história, chegando até os dias de hoje, iluminados pelo lema Ora et Labora (Reze e Trabalhe).

A liturgia da Igreja celebra a festa de São Bento aos 11 de julho e Santa Escolástica, a 10 de fevereiro.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora (MG)

Fonte: https://www.cnbb.org.br/sao-bento-de-nursia-homem-das-alturas/

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