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CAPÍTULO 3 - A PRESENÇA DE DEUS

Está escrito no livro da Imitação de Cristo: “O humilde se mantém em Deus”, Stat in Deo… São Bento poderia dizer como os primeiros solitários do Carmelo: Viva o Senhor, em cuja presença me mantenho. Sendo a presença de Deus tão familiar e tão cara a este incomparável pai, ele a ensinava também a seus filhos e não cessava de inculcá-la. Reconhecendo-se, como São Paulo, devedor aos fortes e aos fracos, ele tinha meios proporcionados a cada um para levá-los todos a viver na presença de Deus.

Aos mais fracos, São Bento dava este preceito: Saibam que em todo o lugar Deus os olha. E noutro lugar: Cada um considere que Deus o contempla do alto do céu, e que em todo lugar suas ações são vistas pelos olhos de Deus e a toda hora são referidas a Deus pelos anjos.

Assim é útil representar-se Deus como nosso soberano senhor, como um grande rei, dominando nos céus, servido pelos anjos, e não se dedignando absolutamente abaixar os seus olhares sobre nós, pobres vermezinhos. Ele faz mais, pois se interessa por tudo o que se refere a nós, por tudo o que fazemos; ele envolve nisto os Seus anjos e os delega para junto de nós a fim de nos guardar e, se for preciso, nos denunciar a Ele.

Este meio de praticar a presença de Deus funda-se, como se vê, na imaginação, dirigida entretanto pela fé. E quando a fé é assim a diretriz da imaginação, esta pode prestar-nos grandes serviços.

Mas o discípulo de São Bento deve esforçar-se por se elevar acima das imagens e da imaginação, deve aspirar a viver da fé; pois, diz São Paulo, o justo vive da Fé: Justus meus ex fide vivit. Se, pois, o discípulo de São Bento começa por atos da imaginação ajudados pela fé, ele progredirá por meio dos atos de fé auxiliados um pouco pela imaginação, e será perfeito quando, elevado acima dos sentidos, viver puramente da fé, como o justo de São Paulo. Justus meus, o meu justo, diz o apóstolo.

Então São Bento ensinar-lhe-á uma nova maneira de entender a presença de Deus. Escutemos este mestre pouco conhecido: Temendo a Deus, diz ele dos verdadeiros servidores de Deus, temendo a Deus, eles não se tornam orgulhosos por causa de sua boa observância, mas reconhecendo que tudo o que tem de bom não procede absolutamente deles mesmos, mas vem de Deus, glorificam o Senhor que neles opera, dizendo com o profeta: Non nobis, domine, non nobis….

Estes felizes discípulos de São Bento não mais consideram Deus como acima deles no céu; nem como em torno deles, à maneira do ar que nos envolve; mas eles O vêem, pela fé, presente neles mesmos pela infinitude de Seu ser, dando-lhes o ser, a vida, o movimento e, por conseguinte, todo o bem que fazem. Reconhecem que Deus é o seu primeiro autor, o seu único inspirador; e então Lhe tributam glória por tudo, cantando com amor e humildade o versículo do salmo: Non nobis, Domine, non nobis!

Este “non nobis” é a tradução dos sentimentos dos homens que renunciaram totalmente a si mesmos para seguir a Jesus Cristo.

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