Discurso por ocasião da Dedicação da Basílica Abacial de Montecassino
Hoje não é a carência do convívio social que impele o homem ao refúgio, mas a sua exuberância. A excitação, o barulho, a agitação febril, a exterioridade e a multidão, ameaçam a interioridade do homem; falta-lhe o silêncio com a sua genuína palavra interior, falta-lhe ordem; falta-lhe oração, falta-lhe a paz, falta-lhe ele mesmo. Para reaver o domínio e a alegria espiritual de si, ele tem necessidade de voltar ao claustro beneditino.
E o homem recuperado de si mesmo pela disciplina monástica, é recuperado para a Igreja. O monge tem um posto de escol no Corpo Místico de Cristo, uma função muito providencial e urgente. Isto vo-lo dizemos experimentados e desejosos como estamos de ter sempre na nobre e santa Família Beneditina a guardiã fiel e zelosa dos tesouros da tradição católica, a oficina dos estudos eclesiásticos mais pacientes e severos, um lugar onde se exerçam as virtudes religiosas, e, sobretudo, a escola e o exemplo da oração litúrgica, que apraz-nos saber mantida sempre por vós, Beneditinos de todo o mundo, em altíssima honra, e que, esperamos continuará a ser, como convém a vós, nas formas mais puras, no canto sacro e genuíno, e para o vosso ofício divino, na sua língua tradicional, o nobre latim, e especialmente no seu espírito místico e lírico.
Diante de vós, tendes uma tarefa grande, magnífica; a Igreja de novo vos coloca sobre o candelabro, para que saibais iluminar toda a “casa de Deus” à luz da nova pedagogia religiosa que a Constituição Sacrosanctum Concilium tenciona instaurar no povo cristão; fiéis às venerandas e antigas tradições, e sensíveis às necessidades religiosas do nosso tempo, tornar- vos-eis uma vez ainda beneméritos por haver introduzido na espiritualidade da igreja a vivificante corrente do vosso grande mestre.
Bem-aventurado Paulo VI, Papa
24 de outubro de 1964