4. – O TRABALHO MANUAL
“A OCIOSIDADE É INIMIGA DA ALMA”, diz São Bento . “A ociosidade é um pântano para nossa natureza; quando a natureza cai nesse pântano, apodrece. Nossa alma foi criada para agir, ela tem necessidade de ocupação.”
“POR ISSO, EM CERTAS HORAS, DEVEM OCUPAR-SE OS IRMÃOS COM O TRABALHO MANUAL E, EM OUTRAS HORAS, COM A LEITURA ESPIRITUAL.”
“A comunidade é uma sociedade de trabalhadores que fazem não um trabalho qualquer e de amador, mas esse trabalho a que recorrem os bons pobres para ganhar, com o suor de seu rosto, o pão de cada dia.” São Bento quer que o mosteiro produza “TODO O NECESSÁRIO”; ele prevê “MOINHO, HORTA E OS DIVERSOS OFÍCIOS QUE SE POSSAM EXERCER DENTRO DO MOSTEIRO, PARA QUE NÃO HAJA NECESSIDADE DOS MONGES VAGUEAREM FORA”. “SERÃO VERDADEIROS MONGES, diz ele, SE VIVEM DO TRABALHO DE SUAS MÃOS.” O Pe. Muard queria igualmente que “o trabalho dos membros da comunidade servisse para sua manutenção”.
“O exemplo de Nosso Senhor pobre e vivendo do trabalho de suas mãos – as mãos do Salvador do mundo eram mãos calejadas! – nos impõe essa grande lei do trabalho. O trabalho é uma parte da pobreza… O trabalho, a ferramenta e o ofício são os mais nobres e os mais verdadeiros instrumentos de penitência… O abandono e, com mais forte razão, o desdém do trabalho manual é um prejuízo para a Regra e para a observância monástica.”
“Conduzido com discrição, o trabalho agrícola e da horta de toda a comunidade fortificará os fracos, saneará os cérebros e dará excelentes resultados. Se for útil, nada se opõe a uma mudança temporária das horas, à supressão de conferências ou leituras de menos importância, num caso de necessidade urgente.”
“O trabalho e a piedade estão intimamente ligados. O trabalho serve para ver o que vale a piedade. Não tenho confiança numa piedade que, sob pretexto de devoção, se afasta do trabalho. O trabalho é uma excelente preparação à vida interior. Quanto mais nos entregarmos à vida interior, mais teremos a compreensão da lei do trabalho.”
Como se deve escolher seu trabalho? Primeiro princípio: “Em comunidade é indispensável que o trabalho seja indicado somente pela obediência. Que vale um trabalho fora da obediência? Ele merece o castigo. Ele o terá segundo esta palavra de São Bento no capítulo VII: “A VONTADE MERECE O CASTIGO.”
Segundo princípio: “Não escolhamos nosso trabalho. Que não me consultem, que não cuidem dos meus gostos.” O Pe. Muard diz com efeito: “O monge não será livre para escolher o gênero de ocupação que lhe agrada mais. Cabe ao superior indicar a cada religioso o gênero de trabalho ao qual ele deve se aplicar.”
Terceiro princípio: “Sejamos constantes. Não nos contentemos de tentar. Permaneçamos na tarefa até vir a ordem de parar… Como é raro o verdadeiro devotamento! O devotamento que consiste em se dar continuamente, apesar das dificuldades, do desgosto, com o sentimento de que se é o servidor dos outros.” O Pe. Muard recomenda também rejeitar “todo pensamento de desgosto, de preguiça ou de amor próprio” e se consagrar ao trabalho de “todo seu coração.”
O que o senhor chama um encargo? “O encargo é um trabalho confiado a um monge de modo permanente. É uma bela maneira de se renunciar. Encontrei pessoas bastante singulares para dizer: “Ah! Enfim! Agora eu tenho um encargo, vou fazer o que bem me entende!” Falar dessa maneira é uma estupidez. Na realidade, ter um encargo é pertencer à comunidade. Há dois lados no encargo: o lado de Deus e o lado pessoal. Ora, os tolos, e eles são muitos, voltam-se para o lado deles mesmos e, então, ficam presos como moscas no mel; quando elas pousam suas patas nele, não podem mais voar. Seria preciso, ao contrário, abandonar tudo o que é pessoal, sobretudo quando se é chefe de encargo. Pois, ser chefe de encargo é ser servidor do encargo e de todos aqueles que fazem parte dele.” “Ele se proporá como fim único de seu trabalho, diz o Pe. Muard, a glória de Deus, a salvação das almas e sua própria santificação.”“O trabalho não é senão um meio de salvação e de perfeição, um meio de santificação.”